sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tensão no Busão

Poderia estar mandando emails, poderia estar corrigindo redações, poderia estar fazendo qualquer coisa mais útil, mas tive que sentar e escrever assim que cheguei ao trabalho. Não queria esquecer nenhum detalhe.
Existem coisas que eu realmente desejaria que meus olhos filmassem;  sinceramente às vezes sinto que só falta jogar uma lona em cima de mim porque minha vida é quase um circo.
Não vi nenhum garotinho de terno ônibus, no máximo uns senhores de conga e bermudinha a quatro dedos acima do joelho. Mas até aí, tudo normal, passei pelo corredor e ia me sentar no fundo do ônibus, onde existem cinco bancos um ao lado do outro. Um homem se sentou primeiro, bem no cantinho, perto da janela. Eu sentei perto dele, um banco nos separava. Nem reparei muito no cara, era um tipo normal, camiseta, chinelo, bermuda, uns 30 anos. Continuei ouvindo música e tentando identificar uma ou duas palavras do refrão. Nisso, abre-se um espaço imenso no ônibus, todos estavam se afastando do homem – e de mim. Diminuí o volume do rádio para entender o que estava acontecendo. Bem, ou meu companheiro de banco havia recebido o Espírito Santo e começou a falar a língua dos anjos ou ele estava muito doido de pedra.
Ele falava sem parar coisas desconexas que eu não tive coragem de aumentar o volume do rádio. Fiquei ouvindo sua retórica já que ele estava a cerca de meio metro de mim e eu não sabia o que fazer. Não sabia se mudando de lugar ele ia se sentir ofendido e fazer alguma coisa, mas também não sabia me fingir de cone da CET e ficar paradinha era seguro.
“Porque eu to te traindo Deus... é... tem que assinar? Assinar o que? Não vou assinar nadaaaa!!! Você tinha tudo pra ser minha mulher, a coisa dos meus olhos [ ininteligível] a piscina, a piscina!!!! Esse horário político, mas minha mulher não quero mais. Olha a foto, olha a minha foto!! Eu queria, mas eu, eu sei da piscina... bando de ladrão. Minha mulher? Não... não vou assinar! Assinar o que, filho da puta?!?! Bando de filho da puta!”
Enquanto ele mostrava o dedo do meio para os transeuntes, levantava, sentava, tudo bem. Fingi que nada estava acontecendo. De repente, não mais que de repente, em um espasmo, ele, sentado, virou seu braço direito e bateu no banco que estava entre nós. Fui para o banco ao lado diiiiiiscretamente para que ele não percebesse minha existência. O ônibus parou, algumas pessoas entravam. Entre elas, uma mulher com braços de mama Bruscheta, uma regata com estampa de guepardo agarrada e uma calça de veludinho marrom que praticamente embalava a mulher a vácuo. Ela sentou justamente onde eu estava antes.
O homem teve um segundo rompante e começou a discursar para a rua novamente e reiniciou sua sequencia de movimentos com os braços; a mulher quase enfartou, mas não saiu do lugar.  Neste momento meu ponto chegou e eu desci.
É, acho que não vou parar de andar de ônibus.

4 comentários:

  1. hahahahahahaha
    Infelizmente, muitas coisas são perdidas por nossos olhos não filmarem!

    A descrição da mulher, que sentou ao lado do seu companheiro, foi FANTÁSTICA!!! Mais uma vez, muito bom, cat!

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  2. "embalava a mulher a vácuo". Adoro!!!
    Ai, menina, nem dá vontade de escrever nunca mais. Só ler isso aqui e remoer a inveja...
    Beijocas!!

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  3. kkkkkkkkkkkkkkk

    ai Sú ''me fingir de cone'' kkkkkk
    vc é d+ amica!!

    bjus

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  4. Se os olhos filmasse e fosse youtube este vídeo teria 4392487234283578273582 de views!

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