quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mãos


Fiquei feliz. Estava no meio do Gonzaga, agarrada na minha bolsa com receio de ser assaltada, quando cruzei com um dois caras. Eu já havia os vista uns metros antes e reparei que estavam de mãos dadas - eram um casal.

Acho andar de mãos dadas tão gostoso. Pra mim é o termômetro do envolvimento. Se você está saindo com alguém e ela começa a segurar sua mão em público, é sinal que as coisas estão indo bem e que ela não se importa em mostrar pra todo mundo que está com você. É afeto, carinho, dengo, afeição.

Até pouco tempo atrás eu andava de mãos dadas com a minha irmã mais velha na rua e até hoje ando de braços dados com meu pai. É um laço que se faz com a pessoa que caminha a seu lado. É o gostar na sua melhor essência.

A rua não estava tão movimentada assim, mas eu fiquei contente em ver que não havia olhares tortos de reprovação. Acho que todo mundo agiu como eu agi, olhou como se estivesse olhando a estampa da blusa da moça, o preço do vestido, o óculos da senhora ruiva.

As coisas mudam - ainda bem. Se não fosse assim, as mulheres não votariam, ainda teríamos escravos e usaríamos saias abaixo do joelho. Amor é amor, carinho é carinho... é tudo coisa boa, por que não mostrar? Eles não estavam se pegando, dando um amasso no meio do Gonzaga - o que também seria feio para um casal hétero. Estavam de mãos dadas e eu até senti uma pontinha de inveja do chamego que eles estavam.

Se o mundo vai acabar no dia 21? Acho que não, mas acredito que pode ser o começo de um novo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pelados


Uma hora a ficha cai e tudo fica claro. Mesmo que isso custe uns meses de terapia e uma grana a menos para gastar no fim de semana. Eu estava fazendo tudo errado  – tudo. Lógico que não percebi de uma hora para outra. Cortei cabelo, terminei namoro, limpei o armário. Fiz um quadro com metas de curto, médio e longo prazo.

O errado não eram as pontas secas, meu ex ou as roupas velhas. O fato é que eles não combinavam mais comigo e mereciam fazer a diferença na vida de outras pessoas, já que na minha eles já tinham cumprido esse papel. Fácil falar, difícil mesmo é desapegar, mas depois que tudo passa é só assistir um pouco de televisão  que a gente percebe uma coisa: dor mesmo é de quem perde a família toda em acidente de carro, mãe que perde filho, gente que fica paraplégico – o resto é fichinha.

A ficha caiu mesmo quando eu percebi o quanto é fácil a gente encher o armário de tranqueira. Roupas que não servem em você, de cores que você não gosta, estampas que você não é lá muito chegada, algumas até com furinho embaixo do braço. Elas chegam até a gente de várias formas, algumas estavam em promoção, outras até caem no seu quintal e já que estão ali, por que não colocá-las no seu armário? É tão fácil.

Outras parecem lindas de longe e pela etiqueta, são até do seu tamanho. Nesse caso até vale a pena se esforçar um pouco. Então juntamos nossas economias, fazemos esforços homéricos e compramos nossa roupinha dos sonhos. Quando levamos pra casa e provamos é que reparamos que ela não é bem do nosso tamanho. Mas ela é tudo que você sempre desejou, você queria tanto aquela peça, é claro que não vai desistir assim tão fácil. Quem, você? Depois de tanto trabalho? Prudentenmente você decide ficar com ela mesmo a coitada não sendo do seu tamanho. Afinal, qual o problema ela ser pequena demais? Ela vai mudar. Se ela for grande demais, você muda e engorda. Pronto, problema resolvido!  Só que não é bem assim. Lá no fundo você sabe que aquela peça não foi feita nos seus moldes e que ela não vai encolher ou crescer um centímetro.

Cabe a você decidir se vai tirá-la do seu armário de vez ou se vai desfilar com ela por aí com aquele sentimento de que a roupa não está bem em você. Lembre-se de a gente só consegue provar uma peça sem outra por baixo. Tem que se livrar de uma para colocar a outra.

Tem gente que não tem problema nenhum em trocar de roupa, fica anos no provador. O problema é que a vida está passando, amigos casando e ela lá, provando tudo que passa pela frente. Às vezes é tanta roupa, que uma com o número dela passou, ela nem vestiu, nem viu e passou à frente.

Mulher sabe que escolher roupa não é fácil, é preciso pensar, ver se combina com seu estilo de vida, se vai conseguir te acompanhar. Contudo, tem uma coisa que a gente sempre esquece de fazer. Já se olhou no espelho e viu se você engordou ou emagreceu? Se sim, onde? E pra isso, meus caros, é preciso ter muito peito pra ficar nu por aí se analisando. Pior ainda, recusar provar uma saia chinfrim que caiu no seu colo, pois bem provável que enquanto você esteja tentando fazer com que ela sirva em você ou até mesmo se livrando dela, o seu número passou e você nem viu.

Às vezes dá frio, às vezes seria bem mais gostoso estar vestindo alguma coisa, mas precisamos admitir que as melhores coisas da vida são feitas assim - pelados.